a rua é da esquerda...

... a moral e os bons costumes são de direita. 

 

A Maria Teixeira Alves considera, neste post, as abstenções e votos a favor dos deputados do PSD e do CDS [ao diploma que permite corrigir uma discriminação abjecta de crianças a quem são negados os seus direitos parentais] uma traição aos eleitores. 

 

Vai mais longe na caixa de comentários e com alguma inocência garante: "Na altura eu falei com pessoas do PSD e eles garantiram-me que não iam pôr as questões fracturantes na agenda. Ora é uma traição irem aprovar as agendas da oposição." Esta coisa de se falar com "pessoas do PSD" e essas pessoas garantirem coisas é interessante quando falamos com crianças de 5 anos que é aquela idade em que escrevemos cartas ao pai natal e pomos os dentinhos de leite debaixo da almofada. 


Vou ser muito claro. Eu sou militante do PSD já há uns aninhos. E já há uns aninhos que falo e troco umas ideias com pessoas do PSD. À Maria Teixeira Alves o PSD pode parecer uma congregação de carmelitas em clausura: gente temente (ler temerosa) a deus que defende a moral e os bons costumes e, já agora, a bravura dos navegadores das índias. Acontece que o PSD não é nada disso. O PSD é uma federação de sensibilidades que inclui gente bem mais à esquerda que os socratistas a gente bem mais conservadora que a própria Maria Teixeira Alves.


Se a Maria Teixeira Alves conhecesse o PSD saberia que Manuela Ferreira Leite, na sua primeira entrevista televisiva (de má memória) enquanto presidente do PSD, cavou uma fractura dentro do partido ao afirmar a vocação do casamento para fins de procriação. Saberia que muitos dos que rejeitaram esse discurso (nomeadamente Passos Coelho que criticou essas declarações publicamente) viriam mais tarde a assumir a liderança do partido. Saberia ainda que muitos militantes (nos quais me incluo) trabalharam arduamente para eleger Passos Coelho presidente do partido, primeiro, e primeiro-ministro, depois, conscientes do compromisso de que esta liderança do PSD daria liberdade de voto em matérias "fracturantes". É por ser militante do PSD, por ter lutado pela eleição de Passos Coelho, por ter ouvido da boca do próprio em vários eventos durante a campanha eleitoral (nomeadamente num jantar de blogers e em duas sessões de esclarecimento de jovens) que não tomaria iniciativas legislativas mas que daria liberdade de voto em matérias fracturantes que fico perplexo quando personagens como a Maria Teixeira Alves, de quem em muitos anos de militância nunca tomei conhecimento, se arrogam credores da agenda do PSD. 

publicado por Rui C Pinto às 23:08 | link